A primeira meia maratona Rock n’Roll Lisboa foi vivida com a intensidade própria de quem não sabe o que lhe espera.
O nervoso miudinho chegou uma semana antes, quando comecei a questionar-me se seria ou não capaz de fazer 21km sem parar de correr. Tudo mudou nessa semana. Quanto mais informação recolhia, de pessoas experientes na matéria, mais alterações implementava à rotina. Resultado: deve ter sido a semana mais saudável dos últimos anos.
A alimentação mudou, passando a comer mais hidratos de carbono do que é o habitual, não toquei em vinho, nem um copo ao jantar, e deitei-me todos os dias mais cedo. Pus de lado todos os sapatos e botas com salto acima dos 2 cm, para não arriscar torcer um pé, evitei pegar em pesos, não fosse dar algum mau jeito, e segui criteriosamente o plano de treinos definido para a última semana.
Quando a situação estava a ficar mais controlada, começaram a chegar informações de previsão de temporal para o dia da prova. Drama: o que fazer se estiver a chover?
Sábado, véspera da prova, ainda se colocava a hipótese da corrida ser cancelada, caso o temporal se mantivesse. Desilusão total! Tanta preparação para agora “morrer na praia”?! As pessoas à minha volta começavam a dar sinais de desistência, enquanto eu só pensava em levantar-me no dia seguinte e sair de casa para ir correr.
Na véspera à noite parecia que íamos viajar no dia seguinte. Os dorsais, a roupa, os ténis, a água, a identificação, a marmelada, tudo tinha de ficar preparado, como se de uma mala de viagem se tratasse! Ainda sobre a chuva, os conselhos começaram a chegar, via SMS, Messenger, Whatsapp: levar saco de plástico do lixo grande para fazer de capa da chuva, levar uma peça de roupa velha mais quente, para deitar fora e não pesar.
Ao nível emocional fez-me lembrar os tempos de escola, quando havia aquela sensação mista de ansiedade, felicidade e nervoso miudinho em véspera de visitas de estudo :-).
No dia seguinte, fui para a prova, ainda com a ideia naif, de a fazer, pelo menos parte do tempo, acompanhada e a conversar. Assim que houve o sinal de partida, todos arrancaram, cada um ao seu ritmo. Ficou logo ali claro que o meu objetivo era diferente do dos outros. A minha única preocupação era chegar ao fim sem parar de correr, sem olhar a tempos, horas e km feitos. Só fui apercebendo a quantas andava quando ouvia alguém comentar número de quilómetros realizados.
Tive contacto com a realidade aos 8km ,13km e 17km. A forma que arranjei para me motivar foi pensar sempre que estava a começar uma nova corrida de treino. Aos 8km pensei “bem, agora estou a sair de casa para ir correr 8km” e o subconsciente pensava, “quando chegar aos 16km, logo se vê”. Aos 13km, pensei, “já estamos a mais de meio, e isto é tão bom, que vai ser uma pena quando terminar”. Quando cheguei aos 17km, aí doeu mais, o cansaço já era muito, e apliquei a mesma estratégia dos 8km, ao pensar que estava a chegar ao ginásio para fazer uma corrida curta de 4km, só para aquecer… Também pensei que se tivesse de ir a correr até Alverca é que ia ser complicado, agora 4km, faziam-se bem…!
Foram 21km a correr sozinha, em modo meditação, suportada pela força mental.
A segunda meia já foi bastante diferente, mais física do que mental, com uma maior estratégia de velocidade, mas também ajudou estar acompanhada pelo PT Tiago Silva, que me ia dizendo os tempos e dando conselhos. Fiz a primeira metade a 6’09’’ por km e a segunda andei entre os 5´20 e os 5´30’’. Mais de metade da corrida foi feita na companhia de mais pessoas, da amiga dos treinos pré-prova, de mais dois “maratonistas” que corriam ao mesmo ritmo que nós, e do Tiago, que passou quase toda a prova a conversa com os novos “amigos”.
A semana que antecedeu esta segunda prova foi muito mais tranquila do a primeira. Só a véspera me stressou um pouco, por ter uma festa, o que me obrigou a ter especial atenção e contenção na alimentação, bebida e hora de ir para casa!
A manhã do dia da prova foi calma. Começou com umas papas de aveia super nutritivas, para que as reservas não faltassem durante a prova. Fomos de táxi até ao Café In, fizemos um jogging até aos Jardins de Belém, onde parámos para correr quatro sprints de 50m e fazer uns alongamentos leves. Passámos ainda pela típica fila da casa de banho, muito importante para evitar interrupções durante a prova. E lá fomos para o local da partida onde aguardamos tranquilamente pelo sinal da partida.
O momento da chegada é sempre especial e este foi ainda mais emotivo, na companhia dos meus filhos, dois promissores corredores, que me acompanharam ao longo do último km <3. Na meta estava, estava à minha espera, já tranquilo, a minha maior inspiração na vida e na corrida, pronto para fotografar a minha chegada, depois de ter feito o tempo espectacular de 1’44” :-)!
As maratonas, meias ou inteiras, são provas de consistência física e mental, em que nos temos de preocupar sobretudo com o momento da chegada. Devemos começar de tranquilamente e ir aumentado gradualmente o ritmo quando temos metade da prova feita.
Quanto ao futuro, duas meias estão feitas, esperam-me mais duas nos próximos seis meses, entre outras participações em corridas curtas, e um plano de treinos para ser cumprido, 16 a 20 semanas antes da primeira maratona, em Bilbau à noite, em Outubro de 2016, com o objetivo de fazer em menos de 4horas.
Como diz o Pedro da Lisbon City Runners, “não há motivos para pressas. São precisos quilómetros e quilómetros nas pernas de forma consistente, sem lesões e de forma saudável, para se estar preparado para uma maratona”.
It’s Up to You!
Raquel