ALIMENTAÇÃO SEM MENTIRAS, NOVO LIVRO DE MARIÁN GARCÍA

Alimentação sem mentiras
Acaba de ser lançado em Portugal o livro “Alimentação sem Mentiras”, de Marián García, nutricionista espanhola, doutorada em farmácia, também conhecida como “Boticária Garcia”, com o objectivo de desmistificar muitos dos mitos que se foram criando, ao longo dos anos, na área da alimentação.

Ao ler a sinopse do livro reparámos que este será certamente um excelente aliado ao serviço Healthy Shopper Adviser, que ajuda a fazer as compras para a despensa da casa de forma rápida, económica, consciente e sustentável, o qual pode ser requisitado através da nossa plataforma on-line.

Quisemos saber mais e estivemos à conversa com Marián García que partilhou muitas curiosidades, como: os alimentos que nos podem levar a poupar mais dinheiro ao fazermos substituições saudáveis, porque razão não vale a pena proibir a comercialização de determinados produtos, falou ainda sobre o papel dos influencers neste mundo da “vida saudável”, entre muitas outras curiosidades. Se não conhece a regra dos 3-4-3 não perca esta entrevista.

Aqui vos deixamos com Marián García:

Qual o capitulo do livro que gostou mais de escrever?

Todos os capítulos do livro deram-me o mesmo gosto e prazer a escrevê-los porque afinal trata-se de partilhar com os leitores informação que irá melhorar as suas vidas se assumirem determinadas atitudes de uma vida saudável.

A sua leitura irá igualmente permitir-lhes decifrarem melhor todo o complexo sistema de etiquetagem com algumas verdades e mentiras, outras vezes com   omissões ou até verdades incompletas com que o marketing disfarça muitos dos produtos com características apelativas a partir das prateleiras dos supermercados.

Senti-me muito confortável a escrever sobre frutas e legumes, uma combinação portuguesa que estou sempre a defender: parece algo místico mas é esse o espirito. Se metade do conteúdo do nosso carrinho de compras no supermercado for verde e vermelho, como a bandeira de Portugal, é porque está bem recheado de frutas e legumes, e dessa forma estamos no camino certo.

Também o último capítulo, no qual apresento o “zorromostro”, uma palavra muito comum na minha terra, a Comunidade de Castilla-La Mancha, em Espanha. Usamo-la para descrever algo muito estranho e terrivelmente feio: as salsichas tipo “Franckfurt”, ou pior, as delicias do mar.

Aproveito para chamar a vossa atenção para o capítulo dos aperitivos, algo tão enraizado nas nossas regiões que pode ser convertido num hábito perfeitamente saudável ao integrarmos frutos secos, crús ou tostados, guacamole, azeitonas, e pickles ou húmus (húmus é um alimento típico da cultura árabe feito a partir de grão-de-bico cozido e espremido, taíne, azeite, suco de limão, sal e alho).

Na sua opinião, qual considera ser a maior armadilha criada pelo marketing nutricional na área da alimentação saudável? E, especificamente, quando dirigido às crianças?

Recomendo sempre o consumo de produtos sem etiquetas, de proximidade, ou seja, de produtores próximos do local onde compramos e/ou habitamos, e livres de plásticos: frutas, verduras, legumes crús ou em conserva, carnes de pavo ou frango, peixe, pão integral … De um modo geral, evite os alimentos ultraprocessados e dê especial atenção a todos os que se denominam de “orgânicos”, “bio” “como no tempo da avó”, etc, porque não temos “avós” suficientes para cozinharem tudo o que está exposto nos locais de venda com este tipo de etiquetagem.

Lamentavelmente, a legislação é laxista com estas situações e a indústria usa frases e ditados universais, de que todos ouvimos falar e que tentam induzir confiança no consumidor.

Se pudesse proibir a entrada de produtos no supermercado, qual seria o TOP 3?

Creio que adquirimos hábitos alimentares saudáveis, depende da informação, da educação e da capacidade crítica do consumidor. As pessoas têm que ter acesso a informação qualificada e em quantidade suficiente para que possam tomar as suas próprias decisões no supermercado. Não estamos a falar de proibir, mas sim que o consumidor entenda o que o beneficia. Se for possível compreender o que está na etiqueta, incluindo alguma informação nutricional, não há necessidade de limitar a presença de produtos nas prateleiras. Isto porque as próprias pessoas, se não os comprarem, levam a que eles saiam do ponto de venda por si mesmos, já que os gestores das redes comerciais assim o decidirão.

Quais os cinco alimentos que nos podem levar a poupar mais dinheiro ao fazermos substituições mais saudáveis?

Os produtos ultraprocessados foram pensados e criados para serem saborosos e na realidade são mais caros do que pensamos. Estão ao nosso dispor e estão em boas condições. Por exemplo, se posso colocar uma pizza no forno para que vou preocupar-me em cozinhar?

Contudo, com os avanços nas áreas da ciência e tecnologia alimentar, temos ao nosso alcance múltiplas possibilidades de comprar comida barata e saudável como são, por exemplo, os legumes em conserva. Uma salada de grãos com legumes é um prato delicioso, completo e para todos os bolsos. Comprar legumes congeladas, também é uma boa opção até porque não temos que nos preocupar com a sazonalidade, pois podemos consumi-los fora da estação do ano própria da sua produção.

Ou os iogurtes, o melhor (e mais barato), já que é o que cumpre a regra 3-4-3 (3% de gordura, 4% de açúcar e 3% de proteína), e com apenas dois ingredientes: leite e fermentos lácteos. Se gostar deles com fruta pode sempre acrescentá-la em casa.

Tendo uma comunidade tão grande nas redes sociais, através das quais consegue fazer a sua mensagem chegar a tantas pessoas, onde acha que o livro pode marcar a diferença?

Não nos podemos esquecer que ainda há uma parte significativa da população que não tem acesso às redes sociais. Ou porque vive em áreas de escassa ou nenhuma cobertura de rede, ou pela idade, ou ainda devido a aspectos culturais.

O avanço que se conseguiu graças à internet 2.0 é assombroso: multiplicaram-se as plataformas de conteúdos, os canais de acesso  à informação, assim como a interactividade. No Instagram, Twitter ou Facebook há um contacto directo com os seguidores que era impensável há alguns anos. Mas o “Dr. Google” tem duas caras e a nossa responsabilidade é transmitir às pessoas onde devem procurar informação credível, quais as fontes fiáveis e dar-lhes referências de qualidade.

Sendo o tempo das coisas mais valiosas que temos, perceber que a minha comunidade nas redes sociais dedica-me parte do seu tempo ao colocarem comentários, ao fazerem perguntas e a responderem a questões por mim colocadas, é muito gratificante. É um circuito win/win, pois transfiro os meus conhecimentos e, simultaneamente, aprendo com todas aquelas pessoas que, com as suas inquietações, me incentivam a prosseguir e a crescer como profissional de saúde e na sua divulgação. Para além de tudo isto, ainda me divirto, porque os “meus afiliados” como carinhosamente chamo à minha comunidade de fiéis, é tão agradecida como divertida.

Por outro lado, o livro convida sempre à reflexão, à releitura e a uma pausada meditação, impensável se estivéssemos apenas a viver no ritmo frenético e na voragem das redes.

Na sua perspectiva a chamada “moda do saudável”, que se vive desde há cerca de 5 anos, fez com que um maior número de pessoas se alimente de forma mais saudável ou teve o efeito inverso?

Os canais de comunicação melhoraram e a tendência é adoptar estilos de vida saudáveis, preocupando-se com a alimentação, o exercício físico, bem como com a saúde do sono, entre outros aspectos.

As pessoas estão mais informadas e capacitadas para tomarem decisões responsáveis. E no exercício desta liberdade está a chave para a perseverança.

Há muito por fazer. As próprias instituições podiam tomar mais decisões que ajudem a combater os maus hábitos e as práticas prejudiciais, como ocorreu recentemente em Espanha com a atitude das autoridades contra os “influencers” que receitam (aconselham) medicamentos.

Apesar de se ter criado uma cultura sustentável no pensamento crítico dos consumidores, é imprescindível avançar com atitudes pedagógicas e tomar decisões que acabem com inúmeros exemplos de más práticas em ginásios, refeitórios escolares ou residências de idosos, entre outros.

Para terminar, estamos melhor ou pior em termos de literacia nutricional do que há 5 anos?

Voltando um pouco à resposta anterior, estamos melhor, há mais consciência social. Mas temos que continuar a trabalhar e conseguir o apoio das diversas instituições que podem contribuir, essencialmente, no âmbito da educação para darmos mais passos. Ações concertadas são essenciais para que no futuro possamos, não só comer de maneira saudável, mas sem esquecer a sustentabilidade e o  meio ambiente.

“Todos os dias somos bombardeados com informações sobre alimentos que nos fazem bem e mal, que nos vão ajudar a emagrecer, baixar o colesterol, ter um trânsito intestinal fluído ou permitir viver até aos 100 anos. (…) Acredite que um produto pode não ser saudável mesmo que tenha desenhado um enorme pêssego na embalagem, que a caixa seja verde e pareça «saudável», que inclua a palavra «natural», que seja 0%0%0%, ou que um influencer apareça a comê-lo no Instagram.” por Marían García.

It’s Up to You!

Raquel