O mindfulness, prática da atenção plena, rainha no combate ao Stress e Ansiedade, diz-nos para não corrermos tanto.
Mas é, apenas, interiormente. Esta prática, que é a junção de duas práticas (meditativas e cognitivas) ajuda-nos a não pensar tanto no que já passou (passado) nem no que ainda há-de vir (futuro), pedindo-nos para estarmos o mais focados possível no nosso dia-a-dia, não alimentando julgamentos ou críticas desnecessários, de forma a vivermos mais tranquilos.
Isto porque, ainda que cada um o faça à sua maneira, todos, sem exceção, corremos a toda a hora. Participamos, diariamente, na tal da maratona da vida tentando chegar a uma meta que muitas vezes nem sabemos qual é. Somos cooperantes da corrida da pressa ou de uma caminhada numa montanha cheia de vegetação de mágoas e medos, principal alimento da tristeza e ansia.
Quando paramos só o corpo para. A mente continua, mesmo que já tenha passado a meta. Ela não cessa a corrida. E, o grande problema é esse. Mesmo que o corpo esteja deitado, como a mente continua a pensar desmesuradamente em tudo aquilo que as nossas memórias se “lembram” de lhe mostrar, os órgãos reagem.
E o nosso organismo responde ao “chicote”: acelera, vai. Vai em direção ao desgaste e com o tempo sobe o cume da doença, física ou mental. E ganhamos as medalhas dos “primeiros lugares” no Top de perturbações psicológicas ligadas à depressão e ansiedade.
(Portugal, para além de ser um dos países da Europa cuja população mais consome antidepressivos e ansiolíticos, é – segundo um estudo epidemiológico, de 2017, integrado no World Mental Health Survey Initiative, da OMS e da Harvard University – dentro de 34 países analisados, o que ficou em quarto lugar a nível de perturbações psiquiátricas nos adultos. E, foi o número um em perturbações de: ansiedade, depressivas, de impulsividade e de alcoolismo.)
O Mindfulness é das práticas mais recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, à semelhança do “exercício físico” a nível geral, de práticas como o Yoga, Chi Kung, Meditação e outras do género. Estas recomendações encontram-se em vários programas da OMS, em especial no programa Self-Help Plus (SH+) que ajuda a prevenir e/ou tratar de grupos de pessoas com a saúde mental em risco. É uma prática “base” que constrói alicerces para uma melhor gestão das emoções, do tempo e da vida. Daí, os seus tópicos, se encaixarem na perfeição em outras práticas como, por exemplo, na corrida.
Falamos, agora, obviamente, da corrida “corporal exterior”, daquela que faz bem ao corpo e à mente e que se baseia nos movimentos físicos dos nossos maravilhosos membros. Daquela corrida que ao percorrer metros, quilómetros, limpa o organismo e a alma. Diminui, portanto, a correria interior que tanto nos prejudica.
Como tal, o Mindfulness – cujo objetivo é o equilíbrio mental e físico – também tem sugestões para esta atividade. Deixo cinco dicas que, aparentemente simples, podem ajudar a que a sua performance na corrida – seja oficialmente “competitiva”, ou não – possa ser uma viagem harmoniosa entre o corpo e a mente:
- Antes de começar faça algumas inspirações e expirações conscientes, da forma mais tranquila e profunda que conseguir. Não se esqueça que se vai correr ou entrar numa prova é porque quer, gosta e, de alguma forma, já treinou para o efeito;
- Não se foque na totalidade do trajeto que tem pela frente. Faça-o por fases. Na sua mente, divida o percurso em várias partes. Escolha, de imediato, a primeira fase do caminho que pode ser, por exemplo, da zona de partida até um certo sitio que a sua vista alcance. Quando chegar ao local que visualizou anteriormente estabeleça uma nova meta: a de chegar a outro local mais à frente que a sua visão também alcance; ou divida os treinos ou prova em pequenas distâncias. Definir uma distância específica que sirva como marco de recomeço, por exemplo, de 5 em 5 kms ou de 2 em 2kms, dependendo da distância total do treino ou prova;
- Correr acompanhada pode ser um bom exercício de Mindfulness se soubermos falar “de nada”. Quero com isto dizer, de nada que nos preocupe ou que nos leve para pensamentos passados ou futuros, falar do que estamos a fazer, de como nos estamos a sentir, à volta do que se está a fazer;
- Caso tenha um cão que goste de correr ou que tenha capacidade física para o fazer, nunca é tarde para o juntar aos seus treinos. Correr acompanhada de um cão pode ser muito relaxante por nos focarmos no que ele anda a fazer, ou seja, no momento presente;
- Durante o percurso, tente focar-se no presente: fazendo inspirações e expirações conscientes, principalmente quando vierem pensamentos derrotistas. Ponha o foco na respiração, pensando, por exemplo: «Consciente eu inspiro, consciente eu expiro». Também pode entreter a mente ao observar a paisagem como se fosse a primeira vez que a está a ver ou tentar sentir de forma mais profunda os cheiros, os aromas que pairam no ar, sejam agradáveis ou não, o efeito da brisa que toca na sua pele, ou na sua roupa. Sinta o maravilhoso que é a forma como o seu corpo se movimenta só porque assim o deseja e sinta gratidão por cada membro que tem, por estarem a funcionar bem e a serem úteis tanto nesse momento como em outros episódios da sua vida.
Dê o seu melhor e desista somente se o corpo ou o seu organismo estiverem a ficar debilitados. Não desista por questões “mentais”, por achar que não é suficientemente bom ou porque pode vir a chegar em último, ou entre os últimos, lugar à meta.
Nunca se esqueça que quem deve ir a correr é você e não o seu ego. Às vezes não interessa quem chega primeiro mas sim quem consegue chegar a sítios que nunca imaginou, de preferência, interiormente.
Boas corridas!
Vanda do Nascimento
@mindfulnessessencialesc