Lembro-me muito bem dos meus primeiros kms a correr terem sido a ouvir música bem alta.
Olhando, agora, para trás e com tudo o que já li e ouvi sobre correr ou não com música, acho que todos começamos a correr com medo de nos ouvir. Não queremos ouvir a nossa respiração, com medo que possa parar a qualquer momento, não queremos ouvir os nossos pensamentos, queremos sim que a música nos ensurdeça a cabeça e anestesie o corpo até chegar o dia em que correr passa a ser um momento de lazer e prazer :-).
Quando chegou o dia da sensação de superação de conseguir correr determinados kms seguidos sem parar e perceber que a corrida tinha vindo para ficar, resolvi começar a falar com quem já andava nestas andanças há muitos anos e lembro-me de uma das primeiras perguntas foi se corria com ou sem música, no contexto de me queixar de dores abdominais, as famosas “dores de burro”.
E, nessa altura ouvi o primeiro, de muitos conselhos, sobre iniciação da prática de corrida:
“O importante é calçar os ténis e correr. No entanto, devemos ter em atenção que para quem se está a iniciar na corrida há pontos fundamentais como ouvir a respiração e ouvir as passadas. Quer a respiração quer a passada deve ter uma cadência constante. Música nos ouvidos podem impedir o atleta de tomar consciência destes fatores.”
Experimentei correr sem música e a primeira impressão que tive pós-treino foi a de ter conseguido correr mais rápido, sem que isso implicasse maior esforço.
O segundo conselho sobre o tema foi: correr com música em provas NUNCA. E assim foi, nunca fiz nenhuma prova de longa distância a ouvir música. Num contexto de prova, para mim, é fundamental ouvir e sentir o ambiente, como os outros corredores e o público, quando existe…
Altura em que surge o segundo conselho do Treinador dos nossos planos de treino de corrida “correr com música também está relacionado com o tema “correr sozinho ou acompanhado”. Ao correr com música, o atleta está inevitavelmente a correr sozinho. Ao fazê-lo, não está a tirar partido da energia à sua volta. Essa energia pode vir de outros corredores (por exemplo, em provas) ou da natureza.
Depois há também a questão da segurança. A maioria dos atletas corre na rua, atravessa estradas, cruza-se com outras pessoas. A música não se pode sobrepor à segurança. Mas, há um truque para quem corre na cidade que é colocar apenas um dos auriculares e deixar o outro ouvido com livre acesso a tudo o que se mexe à nossa volta.
Como gosto de aproveitar o tempo que estou a correr para ouvir podcasts e música utilizo normalmente os treinos “easy run” do plano para isso. Todos os outros que exigem tempos por quilómetro, ou sair da minha zona de conforto, são feitos no silêncio da envolvente.
Por fim, há que reconhecer que a música é um estímulo que ajuda a passar, de forma mais rápida, os minutos e os quilómetros. Mas como em tudo, tem que haver um bom equilíbrio.
It´s Up to You!
Raquel