Filipa Elvas: vencedora da maratona na Antártida

Filipa Elvas

Ando numa fase que me apetece escrever sobre pessoas que me inspiram. Pode ser por andar a ler “Este livro não é para fracos” da psicóloga Ana Moniz, que me põe a pensar em pessoas cheias de coragem, exatamente por ser a elas que vou buscar inspiração para os próximos desafios.

Se me irrito muitas vezes com o algoritmo do Google e Facebook por teimarem em influenciar e controlar a informação que nos chega, tenho de reconhecer que existe o outro lado da moeda.

Andava eu a pensar em corridas na Antártida, quando faço uma pesquina no Google e vou imediatamente parar a uma noticia de dois portugueses vencedores da Maratona da Antártida em 2018. Não resisti em ver mais informações sobre Filipa Elvas, e passados 1 a 2 dias recebo um pedido de amizade da Filipa no meu perfil pessoal do Facebook.

Nesse momento lembrei-me do que tinha lido sobre a Filipa e a sua experiência na Antártida, e que muitas perguntas tinham ficado por responder, isto numa perspectiva de quem corre maratonas e sabe o que custam aqueles 42.195kms mesmo em condições normais.

Aceitei o pedido de amizade e lancei-lhe o desafio de lhe fazer uma entrevista para o blog sobre a sua experiência na Antártida, e qual o meu espanto, que respondeu e aceitou de imediato.

A curiosidade em saber todos os pormenores sobre uma prova como a da Antártida era tanta que demorei algum tempo a sintetizar tudo o que gostava de saber sobre esta sua experiência.

Antártida

Voltei a espantar-me com o fato de ter enviado as perguntas num domingo à tarde, a meio de um fim-de-semana grande (ontem), e de ter recebido no imediato uma mensagem a dizer que a tinha apanhado numa boa altura e que estava a responder a tudo.

Nesse momento pensei, está visto, percebido e entendido porque razão é que a Filipa se atira para maratonas únicas, cheias de adversidades, e sai de lá vencedora!

Deixo-vos as respostas sobre a sua experiência, na Antártida, um dos locais mais inóspitos do planeta, na ‘White Continent Marathon’, numa prova que teve mais de 60 atletas de 15 países diferentes, e Portugal saiu vencedor tanto na prova feminina (Filipa Elvas) como na masculina (Manuel Machado).

Idade: 43 anos
Profissão: Assistente de Bordo na TAP AIR PORTUGAL

1. Há quanto tempo corre?

Desde 2011, tinha 35 anos (8 anos).

2. Quantas provas foram feitas até chegar à prova da Antártida?
Foram feitas 15 Maratonas.
A Maratona da Antártida foi a 16 Maratona…

3. Lembra-se da altura em que tomou a decisão de a fazer? E porquê?
Sim, lembro-me perfeitamente.
Foi um ano antes. Já tinha ouvido falar na Maratona da Antártida!
Como não repito nenhuma maratona, achei esta prova um Desafio à minha altura…

4. Como se prepara uma prova, cujas condições, são desconhecidas, ou pelo menos, pouco familiares para os atletas portugueses? O que tem que se fazer de diferente e o que fez para tentar adaptar-se a essas possíveis condições?
Não fiz nada de diferente.
Todos os dias corria devagar, diante de minha casa ou numa cidade qualquer, dependendo do voo TAP que estaria a fazer.
Nunca corri na neve nem com sapatos especiais. Foi tudo novidade no dia da prova!
Já tinha acontecido exactamente o mesmo em 2013, na maratona da Gronelândia, Polar Circle! Também fiquei em primeiro lugar…

Gronelândia

5. Hoje, ao olhar para essa preparação, acha que foi a preparação correcta ou teria feito alguma coisa de diferente?
Não teria feito nada de diferente. Limitei-me a correr, simplesmente.

6. Em qualquer maratona ou ultra-maratona, a nutrição é chave. Quais as diferenças das necessidades nutricionais por parte do atleta, numa prova como esta?
A cabeça e o foco são a chave, não são as necessidades nutricionais. A cabeça é o músculo mais importante do meu corpo.

Chegado o dia D:
7. Como foram os preparativos para o dia da prova e o que levou consigo para correr os 42kms?
Meia hora antes comi duas bananas (faço sempre isso em todas as maratonas). Durante a prova tomo um gel energético de 10 em 10 quilómetros, com um pouco de água.

8. Quando chegou à linha de meta, sentiu que estava preparada?
Sim, aliás senti isso alguns dias antes. Despedi-me dos meus amigos e da minha Família desta forma, “Eu posso morrer, mas só morro depois de cruzar a meta”.
Não estava bem preparada fisicamente. Não tinha cumprido os treinos. Mas, a minha cabeça e o meu foco estavam no máximo.

9. Lembra-se qual foi a parte mais difícil?
A adversidade esteve sempre presente desde o momento da Partida até cruzar a Meta. É uma maratona adversa em todos os sentidos: Temperaturas negativas, ventos fortes e piso irregular.

10. Alguma vez pensou em desistir?
Nunca.

11. Em alguma altura da prova teve noção que ia ganhar?
Sim, a meio da prova…

12. Qual a sensação de ser a primeira mulher a chegar a uma meta cuja condições são ainda mais desafiadoras do que em provas cujas condições nos são mais familiares?
É um orgulho eterno.
São momentos que ficam para sempre na minha mente e no meu coração.

13. Quanto tempo demorou a correr os 42kms e quanto demoraria em condições familiares?
Demorei 5:06.
(Por exemplo, uma maratona em estrada: Chicago 2012 – 3:23)

14. Qual o conselho que dá a quem quer aventurar-se numa prova como esta? 
Cada um de nós faria mais coisas se as julgasse menos impossíveis.

Filipa Elvas desde os 16 anos que praticava 60 minutos bicicleta estática, no jardim de casa dos Pais, debaixo de sol ou chuva. Em 2007 entrou para a TAP Air Portugal e foi convidada para fazer parte da equipa de Triatlo da empresa, mas ao fim de um ano (2009 a 2010) optou por se dedicar exclusivamente ao que gosta realmente de fazer que é correr.

Começou por fazer a Marginal à Noite (8kms) onde ficou em 8.º lugar, depois fez a Corrida das Figueiras (15kms), oitavo lugar de novo e em seguida, aventurou-se na Meia Maratona do Rio onde ficou em 30º lugar. Foi nessa altura decidiu dedicar-se apenas às maratonas. Ligou ao amigo e colega Manuel Machado, perito em corrida de longa distância, a pedir-lhe que a ajudasse a preparar-se para a primeira maratona. Essa foi a primeira de muitas e o treinador mantém-se até aos dias de hoje.

Segundo referiu à Caras em 2013, “Desde 2011 dedico-me apenas às maratonas, aos 42 quilómetros. Apaixonei-me pela corrida de corpo e alma. Correr é o meu passatempo, o meu desporto. Faço-o todos os dias com gosto e um sorriso.”

 

Filipa Elvas

Em 2013, Filipa Elvas foi a única mulher a terminar a Maratona da Grande Muralha da China em 7h50, apenas 15 atletas a completaram dentro do tempo limite regulamentado (8h), e venceu a Maratona do Círculo Polar, na Gronelândia, no mesmo ano.

Maratona Grande Muralha da China

A publicação do artigo tinha de ser feita à mesma velocidade que a Filipa já nos habituou tanto em maratonas, como a dar resposta sobre as suas experiências inesquecíveis.

Aqui está ele!

Muito parabéns Filipa. Isto de maratonas duras é mesmo It’s Up to You!

Raquel