Desde que a Agência Internacional para a Investigação em Cancro da Organização Mundial da Saúde (OMS) “lançou a bomba” de que a carne vermelha, processada ou não, pode causar cancro, que não se ouve falar noutra coisa.
Quando ouvi as primeiras notícias, pensei, “E qual é a novidade?”. Causa a carne vermelha, o álcool em excesso, o tabaco, uma vida sedentária e muitos outros fatores que não fazem parte de um estilo de vida saudável.
Tal como aconteceu há uns meses atrás com o açúcar, o alarmismo que envolve o tema é provocado por as pessoas pensarem que o fato de poder provocar cancro, querer dizer que estão proibidas de comer. A palavra “proibição” leva à revolta e mal-estar geral. Vamos então alterar o termo “proibir” por “alertar” e assim, a mensagem já passa de outra forma. A carne vermelha, pode ser sim consumida, com moderação e equilíbrio, ou seja, desde que na quantidade certa.
Por outro lado, por ser uma diretiva proveniente de um organismo internacional, com estudos feitos numa amostra global, para os mais céticos, ou relutantes na mudança de hábitos alimentares, é fácil agarrarem-se à máxima “think local” para rebater o “think global”.
Acontece que tudo o que fazemos de um lado do planeta tem repercussões no outro, e não vale a pena achar que só nos interessa o se passa na nossa aldeia, até ao momento em que a bomba rebenta na aldeia, e pensamos, “Porquê aqui? Quando nunca fizemos mal a ninguém!”. Pois é, é isso mesmo. Não fazer, não intervir, não educar, não partilhar, “não dá saúde, nem faz crescer”.
O artigo que hoje partilho foi-me enviado no passado mês de Agosto. Por falta de “tempo” não o li logo (na altura estava de férias) e, por falta de lembrança, acabou por não ser partilhado antes. Os mais esotéricos podem achar que o artigo estava à espera do momento certo para me lembrar dele, enquanto os mais esquemáticos podem achar que aguardava pacientemente um “furo” mediático para o fazer.
Certo é que quando li o artigo, envolvida já na polémica atual, foi como uma lufada de ar fresco. Muito bem explicado, assertivo, nada sensacionalista e muito claro. Leiam porque vale muito a pena!
Motivos verdes para evitar carnes vermelhas
Se procurarmos um pouco, facilmente encontramos na net óptimos motivos para não comer carne, especialmente vermelha, tal como achamos argumentos que justificam a sua necessidade.
Por um lado, a carne é considerada um alimento completo, pois contêm os 9 aminoácidos essenciais, sendo que apenas 100 gramas de carne magra contém cerca de 20 a 30 gramas de proteína – o que equivale a, aproximadamente, 50% das necessidades diárias de um ser humano adulto. Para quem pratica exercício físico, a proteína é particularmente relevante, já que é fonte de diversos nutrientes que melhoram o desempenho muscular, contribuindo para um corpo mais tonificado. Por sua vez, a creatina presente na carne ajuda a controlar a taxa de açúcar no sangue em pessoas com diabetes, sendo ainda este alimento a única fonte existente de vitamina B12, indispensável para o funcionamento das células nervosas do corpo.
Por outro lado, diversos estudos associam o consumo excessivo de carne vermelha a maior mortalidade por doenças cardiovasculares e cancro. Para referência, a revista Archives of Internal Medicine apresenta como excessivo o consumo médio de 62,5g em uma dieta de 1000 Kcal por dia e demonstra que quem controla o consumo de carne vermelha e de carnes processadas (consumo médio de 9,8g / 1000 Kcal por dia) vive mais.
Se, no que respeita à saúde, a moderação e a preferência por carnes magras parece ser a melhor opção, no que respeita ao equilíbrio ecológico também.
Talvez muitos não saibam, mas a indústria de produção de carne é responsável por 20% das emissões de Gases com Efeito Estufa (GEE’s) do mundo. E isto sem contar com as emissões resultantes da alteração do uso dos solos (desflorestação para criação de pasto) que, segundo o relatório da WWF, fazem disparar este impacto de 20 para 30%.
Acresce que 70% da água doce mundial (esse bem escasso e a que muitos não têm suficiente acesso), se destina à agricultura, sendo que mais da metade da produção agrícola mundial vai para a alimentação de animais. Na Europa, este valor sobe dramaticamente, verificando-se que 70% da produção agrícola se destina a alimentar gado.
Este facto contribui para que sejam necessários 15 mil litros de água para produzir 1kg de carne bovina, quando para se obter 1kg de soja se gastam menos de 500lts de água. Ainda em relação ao que se considera ser o “ouro do século XXI”, vale a pena referir que uma fazenda com 5mil bovinos produz a mesma quantidade de excrementos de uma cidade com 50 mil habitantes, e que a maior parte dos dejectos é lançada, sem tratamento, na terra e na água, poluindo lençóis freáticos, contaminando rios e mares e comprometendo a vida aquática e humana.
Se todos estes valores forem difíceis de memorizar, quando for ao supermercado lembre-se apenas que, segundo a WPF, são necessários mais de 10 kg de cereais para produzir 1 kg de carne de vaca, cerca de 5 kg de cereais para produzir 1 kg de carne de porco e entre 2 a 3 kg de cereais para produzir 1kg de carne de aves. E que todos estes quilogramas põem em causa a alimentação da população mundial.
Assim, se puder, coma menos carne, opte por comprar aves em vez de carnes vermelhas e compense a sua alimentação com proteína vegetal.
A sua saúde depende de si. A saúde do planeta também. E até para diminuir a fome no mundo a sua escolha conta.
Rita Castel’ Branco by It’s Up to You