Setembro é o mês em que a vida se reorganiza e se preparam as rotinas para o ano de trabalho que começa. É, por isso, uma boa altura para equacionar ideias pré-estabelecidas, alterar estilos de vida e repensar a forma como nos deslocamos.
Utilizar o carro por sistema pode parecer um pormenor alheio à nossa saúde, mas não é. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que os estilos de vida sedentários constituem um dos maiores problemas de saúde pública com o qual as sociedades ocidentais se debatem, calculando-se que 60% da população mundial não pratica actividade física suficiente (OMS, 2006). O (ab)uso do carro individual gera falta de actividade física e, como consequência, doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade. Em áreas urbanas, os automóveis são ainda responsáveis por cerca de 90% da poluição do ar, provocando as doenças respiratórias e alergias que todos conhecemos e um número de acidentes não desprezível, com impacto grave na saúde de alguns e na economia de todos.
Por este motivo, a mobilidade urbana vinculada à saúde e à qualidade de vida faz parte de mais de 300 estudos realizados pela OMS.
Estudos mostram que 30 minutos de actividade física intensa, como andar de bicicleta ou caminhar vigorosamente, pelo menos três vezes por semana, reduz o risco cardiovascular em 30%, além de prevenir o cancro. Previne ainda a obesidade e a diabetes e aumenta o índice de massa corporal, estimando-se que, num primeiro ano, a perda de peso de uma pessoa que passa a deslocar-se a pé para o trabalho pode atingir os 7Kg.
É claro que nem todos nos podemos dar ao luxo de ir a pé ou de bicicleta para o trabalho. Mas utilizar os transportes públicos obriga, em média, a uma caminhada de 8 a 25 minutos por dia – o que é quase o tempo mínimo recomendado pela OMS para gerar melhorias de saúde. E também de bicicleta se pode percorrer (num ápice) a distância que eventualmente nos separa do metro ou do comboio.
Se, por acaso, está a pensar que tudo isto seria muito boa ideia se tivesse tempo, lembre-se que o pára-arranca, a procura de um lugar para estacionar, a busca de trocos, as idas e vindas ao parquímetro, os papelinhos amarelos da EMEL e um bloqueio de quando em vez, implicam não só tempo mas também paciência. E saiba que que o carro é menos competitivo do que a bicicleta nas deslocações urbanas com menos 5km (50% das nossas deslocações) e, em bastantes casos, também menos vantajoso do que as deslocações em transporte público.
E se, para compensar a vida sedentária que o carro nos proporciona, nos empenharmos em fazer algum exercício pela manhã ou ao final da tarde, a poupança de tempo vai-se de vez.
Por isso, se é um “dependente automóvel”, convicto de que as infinitas tarefas a que se propõe diariamente fazem do carro um bicho indispensável… pense de novo. Talvez o seja em alguns dias mas… será em todos?
Aceite o desafio It’s Up To You e, todas as semanas, defina dias com e sem carro, distinguindo entre aqueles em que este é mesmo imprescindível e concentrando as “voltinhas” difíceis nesses dias. Ao fim de um tempo, vai perceber que o carro é dispensável em muito mais dias do que julgava inicialmente e que, afinal, andar a pé, de bicicleta e/ou de transportes públicos (estranhamente!) lhe vai saber a liberdade.
Simplifique a vida, optando por organizá-la em torno do seu percurso casa-trabalho. E em vez de ir correr antes de pegar no carro para trabalhar ou de stressar no trânsito para chegar a tempo à aula de spinning (bicicleta estática), transforme as suas deslocações em desporto; faça do desporto o seu modo de transporte.
A sua saúde há-de agradecer. A saúde dos outros também. E a sua pegada ecológica diminuirá substancialmente.
Rita Castel’ Branco by It’s Up to You.