Conheço o Pedro desde os tempos de faculdade e tenho acompanhado o seu interesse crescente pela corrida, que começou há uns anos, através das redes sociais. Ao ver uma fotografia da sua mais recente maratona, em Paris, lembrei-me de lhe lançar o desafio de responder ao questionário “Share Your Healthy Mood” e ficar a perceber qual o impacto que a intensidade desportiva tem na alimentação e nas restantes áreas da sua vida.
Não quis perder a oportunidade de acrescentar mais algumas perguntas sobre as corridas. Na verdade não é toda a gente que conhece um Ironman e tem a oportunidade de lhe perguntar tudo aquilo que passa pela cabeça de um corredor principiante, que quando está em grande esforço ao 2º, 3º, 4º ou 10km quilómetro, só pensa: “como é possível haver quem corra 20km, 30km, 40km ou mais”.
Depois do desafio lançado e prontamente aceite pelo Pedro, o qual agradeço desde já, fiquei a saber que é fundador da Lisbon City Runners, plataforma web que oferece vários percursos de corrida pela cidade de Lisboa, que pode ser feito individualmente com o “runner LCR” ou em grupo, uma boa opção para empresas (http://lisboncityrunners.com/pt/).
Parabéns Pedro!
Idade: 38 Anos
Profissão: Redactor
Publicitário na Young&Rubicam e fundador da Lisbon City Runners.
1 – Num dia de semana, sem muito tempo, o que costumas tomar ao pequeno-almoço? Quando tens mais tempo, como ao fim-de-semana, muda alguma
coisa?
Um iogurte líquido e uma fatia de pão de cereais com fiambre de peru. Com mais tempo, faço uns cereais com iogurte de soja e mix sementes (goji, chia, pevides de abóbora, pevides de girassol e sementes de linhaça dourada moída) ou umas papas de aveia com canela, morangos, mel e nozes. Para acompanhar, um sumo de laranja.
2 – Qual a refeição do dia que dás mais importância e porquê?
Sem dúvida, o pequeno-almoço. É também a refeição que mais gosto. Como costumo treinar de manhã, faço normalmente, dois pequenos-almoços. Um, antes de treinar e outro, depois. Antes de treinar, depende muito do que tenho pela frente. Se for até 1h de treino, normalmente bebo um iogurte líquido magro e como uma tosta com marmelada. Se for mais de uma hora, como flocos de aveia com mel. Depois do treino, cereais com iogurte, ovos mexidos e um copo de leite sem lactose.
3 – Costumas acompanhar as refeições com alguma bebida? E durante
o dia, o que costumas beber?
Não bebo muito às refeições mas bebo muita água durante o dia. Se for um almoço ou um jantar especial, bebo um copo de vinho tinto.
4 – Qual o alimento que não passas muito tempo sem comer?
Peixe. Como muito peixe.
5- E qual a “relação” que tens com os legumes? Fazem parte do teu
dia-a-dia?
Fazem parte do dia-a-dia, principalmente na sopa. Como sempre, ou quase sempre, sopa. Gosto de legumes cozinhados a acompanhar o peixe ou a carne. Não sou fã, de saladas frias.
6- Comes só quando tens fome?
Porque pratico muito desporto, acho que estou sempre com fome, por isso não corro o risco de comer sem apetite.
7 – Fazes exercício físico? Quantas vezes por semana? E qual/quais?
Treino todos os dias, duas a três vezes por dia. Pratico triatlo, por isso, nado, pedalo e corro. Como
complemento, faço treino de reforço muscular no ginásio.
8 – Quando estás num pico de stress, pensas: “Agora largava tudo e ia … (fazer o quê)?
… correr. Para mim, sair e correr 2 horas seguidas sozinho é a melhor terapia que existe. Mas o que me deixa realmente em stress é não ter tempo para treinar.
Agora algumas perguntas sobre as corridas:
9) O que muda em termos da alimentação quando te preparas para uma prova ou corrida/maratona?
Nos triatlos ou nas corridas, a relação peso-potência é muito importante. É como nos carros, precisamos de ser leves, mas não podemos perder massa muscular. Ou seja, devemos perder peso, apenas à custa da massa gorda. É por isso, importante reforçar a parte proteica da alimentação. Por outro lado, para ter energia para enfrentar 16 a 22 horas de treino semanal, preciso de consumir hidratos de carbono suficientes e nas alturas certas.
10) Quanto tempo antes começas a treinar e com que regularidade?
Depende muito das provas, mas para a maratona e para o Ironman, a preparação começa 6 a 7 meses antes, sendo que as 12 últimas semanas são, talvez, as mais importantes.
11) Ao nível de rotinas diárias, família, trabalho e lazer, muda alguma coisa nas semanas anteriores a uma maratona?
Quando me meti nestas coisas, meti também na cabeça que tinha que reduzir ao máximo o impacto na vida familiar. Se alguém tinha que fazer sacrifícios era eu. Por isso, normalmente, levanto-me muito cedo e treino de manhã. Quando a família acorda, já eu fiz um treino e ninguém deu por isso. O segundo treino, costuma ser feito à hora de almoço e, quando é preciso fazer um terceiro, tento fazer logo que saio do emprego. Penso que, talvez se note um pouco nas tais 12 semanas antes, pois evito saídas à noite até tarde, uma vez que o descanso é outra parte importante da preparação. Quando há jantares de aniversário ou festas de amigos, acabo por ser o primeiro a sair.
12) Que práticas, ao nível de preparação física e alimentar, destacas para a véspera de uma maratona?
Não há receitas e cada atleta tem os seus próprios rituais. O mais importante é que cada um consiga cumprir os seus. Por exemplo, há atletas que gostam de beber um copo de vinho na véspera. Dizem que os ajuda a relaxar e a dormir melhor. Eu, costumo cortar os alimentos ricos em fibra e reforçar os alimentos ricos em hidratos de carbono. Uma semana antes, deixo de beber café. Se a previsão meteorológica for de tempo quente, adiciono uma porção extra de sal às refeições, que vai compensar o suor.
13) Quantas maratonas já fizeste?
Já fiz 4 maratonas + uma. Passo a explicar, fiz duas vezes a maratona de Lisboa, uma vez a maratona de Nova Iorque e uma vez a maratona de Paris. No ano passado, fiz o Ironman de Copenhaga que termina com uma maratona.
14) O que sentiste quando cortaste pela primeira vez a meta? Essa sensação mudou muito da primeira para a última maratona?
Mudou um bocadinho. Na primeira maratona o desafio era apenas terminar. Queria poder dizer “eu consigo correr uma maratona”. Desta vez propus-me a terminar em menos de 3 horas. São coisas completamente diferentes. Se calhar, a primeira foi muito mais divertida, mas desta vez a realização foi maior. Cruzar a linha de meta e ver que todo o trabalho realizado ao longo dos últimos 7 meses, foi compensado, encheu-me de alegria.
15) Qual a parte da maratona que te custa mais? E no que pensas para te motivar a chegar ao final?
A partir dos 35km, começa a doer. Não interessa se és principiante ou se és profissional. Aquilo dói. Dizem os entendidos que deves pensar apenas em colocar um pé à frente do outro. Na minha primeira maratona, eu só pensava em chegar à meta. Desta vez, acho que estava demasiado concentrado no meu relógio para tentar manter o meu ritmo de corrida e não falhar nenhum aspecto do plano nutricional durante a prova. Exemplo, para esta última maratona, o meu plano era ingerir um gel energético a cada 10km, a partir dos 15km até ao fim. Ou seja, aos 15km, aos 25km e aos 35km). Quando dei por mim, estava quase a terminar.
16) Mesmo não estando em esforço, no que pensas quando já correste, por exemplo, 10km e ainda faltam outros 30km?
Eu acho que tenho a sorte de gostar muito de correr. Se alguém me disser, vamos correr 30km eu fico logo todo sorridente. Portanto, não tenho esse problema.
17) Ouves música quando corres?
Durante muitos anos, sim. Mas aos poucos comecei a fazer o seguinte exercício: quando chegava a casa, depois de correr, tentava lembrar-me das três últimas músicas que tinha ouvido. E descobri que afinal, não ouvia música nenhuma. Passei então a deixar o leitor de mp3 em casa e a concentrar-me na minha respiração e a tentar perceber o que o meu corpo me diz enquanto corro. Estes ligeiros acertos fazem muita diferença. No entanto, devo confessar que, quando corro na passadeira ainda uso música.
18) Por fim, peço-te que deixes um conselho que seja transversal a corredores de maratonas ou principiantes, de longa ou curta distância, com muita ou pouca regularidade, que sirva de motivação para atingirem o seu objectivo com sucesso.
O que custa não é terminar uma prova. O que custa é terminar um treino… e outro… e mais outro. Por isso, a quem se propõe fazer uma corrida qualquer, deixo duas sugestões: 1) só o façam se gostarem mesmo de correr. Se não gostam de correr, façam outra coisa. Há tantos desportos para escolher. 2) consistência. Não vale de nada correr muito hoje e amanhã e depois, passar duas semanas sem correr. Se por motivos familiares ou de trabalho não conseguem ir correr os 40 minutos que tinham planeado, então vão correr 30 minutos. O importante é ir. Por muito pouco que seja, é sempre melhor correr pouco que não correr nada.
Muito obrigada pelos bons conselhos e parabéns pelo estilo de vida saudável!
It’s Up to You
Raquel