O triatlo nunca esteve nos meus planos para esta vida. Ah, mas a corrida também não. E nadar então, só me lembro de ter ido para a natação em pequena com o único objetivo de conseguir mergulhar sem ter de tapar o nariz e com isso adquirir algum estilo :-).
Fazer parte de um grupo de corrida bastante eclético, como é o Team It’s Up to You, em que a maioria das pessoas corre, mas também há quem só ande de bicicleta, e prós do Triatlo, abre-nos os horizontes. A vontade de fazer o triatlo sprint foi partilhada num dos último treinos longos para a Maratona de Valência (2.12. 2018). A vontade de mudar a rotina desportiva foi a principal razão que me levou a colocar o Triatlo Sprint de Oeiras nos planos para 2019.
O ano passado já me tinha aventurado no triatlo super sprint. Na altura motivada pela vontade de aprender a nadar crol. Amigos comuns fizeram-me chegar à Bianca, professora de natação, com quem fiz umas seis aulas na piscina, duas em águas abertas e lá fui eu para a prova. Moral da história, gostei tanto que achei as distâncias curtas demais para toda a logística que uma prova destas envolve.
Passando à prova de triatlo deste ano, a preparação começou em Fevereiro, com aulas de natação semanais e algumas semanas com dois treinos. O treino de corrida foi mantido on-going, com a meia maratona da Europa uma semana antes. A bicicleta foi comprada a dez dias da prova e teve direito a ser usada três vezes, com treinos de 26kms, 10km e 8kms. Estava feita a preparação para o Sprint Triatlo de Oeiras 2019 com o único objetivo de chegar à meta.
Tenho um lado competitivo pouco desenvolvido na corrida. Gosto de me superar, mas quando chega ao ponto de sofrer, aí eu recuo e sigo o caminho da diversão. Por isso gosto tanto de primeiras provas, em que a grande vitória está em terminá-la feliz para querer repetir.
Sábado acordei com o mindset na prova de domingo. Regra número 1: não me cansar demais, depois de uma noite mal dormida era prioritário fazer uma sesta. Regra número 2: treinar meia hora de corrida da parte da manhã. Regra número 3: alimentar-me e hidratar-me bem.
Depois de treinar fui ao Mercado das Trocas pôr em prática algumas dicas do workshop de Minimalismo feito no mês passado, almocei e dormi uma sesta (raríssimo acontecer, mas estava focada em descansar). Mal acordei sai disparada para a praia da Torre para ir buscar o dorsal, chip, toca, e tudo a que tinha direito. Ainda passei na Decathlon para comprar uns calções de triatlo, apesar de ser regra de não estrear nada em prova desta vez teve de ser.
À noite ainda houve jantar de anos de uma grande amiga, mas sem antes deixar tudo preparado para o dia seguinte, fotografado e partilhado. As mensagens de boa sorte foram surgindo, o que é logo uma grande motivação.
O jantar realizou-se à defesa do excesso de verduras, do excesso de açúcar, do excesso de álcool, enquanto isso fui bebendo muito água.
Deitei-me por volta da 1h da manhã e com o despertador programado para as 6h30 (não seguir o exemplo de tão poucas horas de sono). Acordei às 4h, às 5h, às 5h30 sempre a achar que estava na hora de acordar. Toca o despertador, acordo com uma nuvem negra a pairar em cima da minha cabeça, a pensar na possibilidade de não conseguir chegar a terra antes do tempo limite da prova. Saí do quarto, olhei para a janela, vi um céu azul maravilhoso, e tudo mudou! Estava pronta para uma manhã de sol, mar, praia, bicicleta e corrida.
Vesti-me, comi as panquecas, bebi o café, fui à casa de banho, peguei na mochila e sai de casa, o relógio marcava 7h19. A caminho do carro tirei uma selfie para enviar good vibes aos atletas do Team que iam fazer o Wings for Life em Munique e a Maratona de Praga e envio uma mensagem à Bianca a avisar que estava a sair de Lisboa.
A coach responde com uma fotografia com um sorriso ensonado e a seguinte mensagem de voz: “olha, podes entrar com tudo, mas só fica no parque de transição aquilo que vai ser usado na prova. Eles têm um local para guardar os sacos, uma espécie de bengaleiro!” Adoro receber instruções precisas em momentos de grande tensão.
Chego a Oeiras, a Bianca envia-me a localização para deixar o carro, e ao chegar ao local, dou de caras com a Rita (IronMe) e Alexandra. O dia estava a começar bem. Chego à entrada do parque de transição e encontro-me com a Bianca que coloca o autocolante com o número do dorsal na bicicleta e inicia-se o processo de procedimentos e regras. Ir para a fila com o capacete na cabeça e a touca na mão. Entro no parque e coloco a bicicleta ao lado da Daniela, que estava a conhecer nesse momento, que estava à espera da Rosarinho, para se instalar ao lado dela. Depois de tudo montado, chega a Rita (IromMe) com as vibes lá em cima e aconselha-nos a colocarmos a bicicleta mais perto da saída do parque, para andarmos menos com a bicicleta na mão. Toca de tirar tudo e levar mais para a frente.
Nesta altura os nervos dão de si e começo a perder tudo, a não saber onde estava a touca, os óculos, o telemóvel, etc… e pensei, pega no que é preciso para te fazeres ao mar, larga a mochila no bengaleiro e sai rapidamente do parque, para parar de perder cenas e de stressar. Nesta altura chegam os Iron Brothers, beijinho para aqui, cumprimentos para ali, o entusiasmo é geral. Tiramos uma fotografia de grupo e saímos do parque.
Vou ter com a Marga e João (Running Boy), barro os braços e pescoço com vaselina emprestada e tiramos mais uma fotografia, eu, a Marga e o Pai da Marga, veterano nestas andanças. E siga para a praia.
Estava cheia de “pinguins” na areia e no mar (a arrefecerem ou aquecerem, dependendo do número de braçadas que damos). Vou procurar a Bianca para ouvir as últimas indicações antes da prova. Encontro-a a fazer o aquecimento no mar, diz-me para dar umas braçadas e logo logo começo a ouvir um apito a chamarem-nos para terra porque daí a pouco ia ser dada o primeiro tiro de partida.
Saímos da água, tiramos mais uma fotografia de grupo de pinguins e vamos para a zona da partida. Vemos os primeiros a sair, a elite, todos a nadar uns em cima dos outros, passado pouco tempo já estão a chegar à terceira boia e eu a pensar, “estou feita, nunca na vida vou sair da água em menos de 33 minutos”.
Oiço mais uma dicas da Rita sobre as possíveis correntes, ajeito a toca, penso que me doem os brincos, tiro-os e vou entregar à Alexandra, ajeito os óculos e começo a ver o grupo das toucas brancas, o meu, a dirigirem-se para a água. Estava dado o apito de partida e siga…
Entro na água a andar e a ver onde os outros de posicionam e penso, vai ter de ser! Dou as primeiras braçadas de cabeça levantada e respiração ofegante e apodero-me do modo maratona, “segue o teu caminho com calma e chegarás ao fim”.
Passo a primeira boia sem grande dificuldade, rumo à segunda boia. Tento não olhar para a praia e penso no conselho da Bianca e Rita de seguir alguém ao meu ritmo e olhar para os pés dela. Assim o fiz. Intercalei com algumas braçadas de costas para descansar e a segunda boia estava alcançada. Chegar à terceira já não foi tão fácil, sempre que olhava em frente na esperança de ver a boia do lado direito, ela apresentava-se do lado esquerdo… Tinha de a contornar pela direita, ou seja, estava nitidamente a ser arrastada para a direção errada. Entretanto passam os Iron Brothers a abrir, partiram uns minutos depois e já estavam ali!
Começo a nadar de costas em direção a Cascais, olho à minha volta e reparo que não estava sozinha, não era a única a passar as dificuldades de transpor a terceira boia. Assim que a passei, suspirei de alivio, rumo à quarta e a seguir a prova estava ganha… Lá fui no meu crol imperfeito, mas sempre com os mesmos à minha volta que não aparentavam estar em melhor estado do que eu. Aí pensei #tamosjuntos.
Passámos a quarta boia e apontei para a baleia das piscinas, conforme dica da Rita. Começo a chegar mais perto da praia e penso, já está! Veem-me à cabeça as dicas da Bianca, “andar à pato (levantar os joelhos e atirar os pés para trás e para fora )”. É nessa altura que vejo o Rogério, irmão da Rita, deito a língua de fora para fotografia, sei lá porquê, acho que estava com a sensação que tinha ganho ao mar.
Logo a seguir vejo a minha filha mais nova com o cartaz do TEAM “toca aqui para receber Good Vibes Only” e o meu marido de câmara apontada, a dar força. Dou um beijinho à Francisca, passo pelo João (running boy) e dou-lhe uma palmada no ombro. Lembro-me que não tinha dado um beijinho ao Ricardo, volto atrás para o fazer, e sigo para o parque de transição.
Dispo o fato, visto a t-shirt do Team, coloco o capacete, os óculos, os ténis sem meias, afinal tinham o pó talco colocado pela querida Patrícia Jonet, tirei finalmente a bicicleta e segui.
Assim que saio do parque vejo a Família Trigueiros Rodrigues completa, junto do Ricardo e Francisca a puxarem por mim (que máximo!).
Faço o meu passeio de 20kms de bike, passo pela Rita (2ª da classificação absoluta feminina), pela Marga (11º da classificação absoluta feminina) a sofrer na subida Algés/ Caxias. Chego ao Dafundo e vejo a Ana Lemos numa varanda com as filhas e marido a apoiarem quem passava. Grito-lhe e oiço, “vai Raquel”.
Logo à frente era o retorno, passo-o e logo depois vejo os Iron Brothers a pararem e o Iron (Mike) a sair da bicicleta. Paro para saber o que se passava e se podia ajudar, quando o Miguel responde que não ia ser possível continuar a prova, porque lhe tinha saltado qualquer coisa da roda detrás e precisava de uma ferramenta que não tinha. Vejo o marida da Ana Lemos a dirigir-se a eles, olho para a Ana Lemos e sigo caminho, sem antes dizer ao Miguel que ficava à espera de os ver passar por mim. Vou a pensar em como é possível haver tanto foco, dedicação e empenho para depois ficarem reféns de uma peça que resolve alterar-lhes os planos…
A chegar Caxias oiço gritar por mim em alto e bom som! Era o António do Team It’s Up to You, ia no seu último treino longo para a Maratona de Copenhaga, cheio de good vibes.
Arrepio caminho e eis que aparece alguém da organização da prova do outro lado da estrada a puxar por mim, e é aí que me sinto bem lentinha em cima da bicicleta, ao pensar que o tempo podia estar a terminar… A 2,5kms do fim aparecem a Raquel e a Madalena (amigas da Ana Lemos) a puxarem por mim, que resultou no boost perfeito para acelerar e não chegar ao fim em modo passeio ehehe.
A chegada ao parque de transição foi uma emoção pela assistência de peso! O Ricardo foi com os calções ideais, cor de laranja bem vivo, para o ver a kms de distância e todos à volta. Mais à frente, mesmo antes de fazer a curva para o parque estava a claque David Vaz, com a Bagui e a Sofia a porem o grupo todo a puxar por mim. Muito comovente mesmo. Se é fundamental termos os nossos mais próximos a puxarem por nós, também não deixa de ser muito emocionante vermos pessoas que não nos conhecem a puxarem por uma causa, a da superação, seja ela qual for.
Siga para a corrida. Eram duas voltas, primeiro pensei, mas que seca estar a repetir o mesmo percurso, mas rapidamente mudei de ideias, ao perceber que ia ter quatro festas em vez de duas. Encontro logo ao inicio a Patrícia Jonet que iniciava a segunda volta, que desabafou que estava de rastos.
Começo a descer e vislumbro os Iron Brothers a chegarem de bicicleta com um grupo de ciclistas à volta deles. E sabem que nem fiquei muito surpreendida porque na realidade eu nunca acreditei que eles algumas vez não terminassem a prova. Quem conhece o Iron (Mike), eu começo a conhecer melhor, sabe que existem poucas ou nenhumas barreiras intransponíveis.
A corrida, a parte que gosto mais. Não tenho de estar com a cara enfiada na água, sem conseguir falar com observar, não tenho de pedalar atrás de quem já passou à muito por mim, e podemos sorrir para quem passa, dar força, puxar, e receber o mesmo em troca, como aconteceu com a Bianca, Vera, Daniela e muitos mais. Muitas foram as pessoas que gritaram pelo Team e por mim, com as quais estarei eternamente agradecida. Na subida passo pela Patrícia que me diz, “vai Raquel, esta é a tua praia!”
Ao chegar ao inicio da segunda e última volta, vejo a Inês junto da minha claque a gritar e bracejar com tal entusiasmo que me pareceram 20 pessoas, e se calhar eram mesmo as vibes dos runners “Treinos Longos Malta Gira” a rondarem a Inês. E siga para a festa da corrida, mais uma voltinha de carrossel e estava feito!
A chegada à meta foi muito emocionante. Além de sentir várias câmaras apontadas a mim para registarem o melhor momento da superação, os sorrisos que vemos nas caras das pessoas e os gritos que ouvimos são a prova provada que estão a viver e partilhar as mesmas emoções por nós, e conseguirmos sentir essa disponibilidade e entrega emocional é o que mais retiro das provas.
Muito obriga à minha coach de natação que sempre confiou na minha superação no mar, ao Life Center por todo o suporte e massagens desportivas que foram afinando a máquina sempre que parecia que ia gripar. Ao meu marido por se ter superado no apoio, vibrou tanto ou mais do que eu nas minhas passagens, à Kikinha no seu estilo mais low profile lá estava sempre de cartaz em punho, ao fotógrafo do Team, Sérgio Vicente, que captou os melhores momentos e a todos os amigos que fizeram parte desta viagem, uns mais de perto outros mais de longe, enviando mensagens de boa sorte!
O Sprint Triatlo de Oeiras está feito! Partilho os tempos da prova para mais tarde recordar:
Total Oficial: 01:47:33
Natação 750m: 00:25:57
Ciclismo 20kms: 00:49:48
Corrida 5kms: 00:26:26
Está feito! Em breve partilharei o próximo desafio.
It’s Up to You!
Raquel